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domingo, 4 de abril de 2010

Páginas De Uma Vida Gasta...

" Oh Paciência... Oh Sangue Frio ... Onde andam voçês quando eu mais preciso ? "
Anne Fazia aquela pergunta nos seus piores momentos de escuridão profunda .. Ainda há umas horas tinha chegado a casa e ja tinha mais uma vez entrado naquela rotina infernal.. Por mais que não quisesse , era inevitável...
Mais uma discussão e mais uma história a acabar mal...
Rivalidades de famílias que acabam por fazer mal a " personagens secundárias " ...
Desde a adolescência que Anne sabia que a família do pai se dava horrivelmente com a família da mãe, e vice versa... Aquele ódio mútuo ja vinha desde os tempos de namoro ,mas ainda assim o casal decidiu casar-se...
Anne ainda hoje pergunta á mae como é que ela foi capaz .. como é que ela aguenta viver na mesma casa que aquele homem tao agressivo a quem ela é obrigada a chamar de pai, uma vez que ela nunca o viu como tal.. E passo a explicar o porquê:
Desde pequena que Anne sempre foi maltratada pelo pai , cada vez que precisava de fazer trabalhos, ele nunca a ajudava, limitava-se apenas a gritar com ela , e gritava cada vez mais alto, cada coisa que lhe gritava ofendia mais que a última :
" Burra ! És uma burra que andas aqui e nunca hás-de chegar nem sequer aos calcanhares da tua irmã ! Pareçes uma anormal que nao é capaz de fazer nada sozinha ! "
Ao ouvir isto, Anne sentia-se cada vez mais desmoralizada, e isso acabou por se reflectir mais tarde na escola, onde Anne começou a chumbar...Chumbou no 7º, 8º e por fim chumbou tambem no 9º ,como consequênçia acabou por levar mais uma valente tareia.. Anne foi sempre muito gozada na escola até ao seu 1º nono ano.. Recebia todo o tipo de ofensas e nunca tinha chegado a perceber porquê, uma vez que era sempre tao simpática para os colegas e os ajudava sempre que eles precisavam..
Com o passar do tempo, foi-se tornando cada vez mais reservada.. as tardes na escola eram passadas na casa de banho, trancada num daqueles cubículos malcheirosos, a chorar compulsivamente, como se nao houvesse amanha..
Anne foi deixando de confiar nas pessoas.. tornou-se numa rapariga fria , calculista , vingativa.. O tempo, as pessoas , e os maus tratos fizeram-na endureçer.. Com o passar do tempo foi crescendo e ficando cada vez mais bonita, apesar de muitas vezes, a irma a deitar a baixo e dizer que ela nao passava de uma aberração e que nao pertencia á família porque tinha sido adoptada..
Anne ja nao sabia como reagir .. sabia já que nao podia confiar em ninguem, mas o problema dela era ainda nao saber distinguir a verdade da mentira ..
" Se hoje sou a pessoa que sou a voçês o devo ! se nao queriam que eu fosse tao carrancuda e má pra voçês, não me tivessem dado esse exemplo quando eu era pequena ! Principalmente aquele estupor que vive ca em casa e a quem eu tenho de chamar pai ! Ele nunca foi meu pai ! Nunca o vi como tal ! A única coisa que ele sempre me deu de bom grado foram aquelas tareias de caixão á cova ! Odeio-o com todas as minhas forças ! E nunca o vou perdoar por me ter tratado tão mal ! " - Este discurso estava ja tao gasto, de tantas vezes ter sido dito no meio das discuções que tinha com a mãe..
A verdade é que hanne odiava cada vez mais o pai.. E á medida que ía crescendo e ganhando idade, crescia com ela o plano que elaborou, quando o ódio se começou a acumular.. Ela planeava por termo á vida do pai , que tanto a tinha massacrado.. quando era adolescente tinha tentado várias vezes mas sem sucesso.. Uma vez, tentou até por ácido na bebida dele, coisa que acabou por nao resultar , uma vez que o pai se levantou da mesa e nao acabou o vinho..
Mas agora era diferente.. Anne tinha ja 24 anos, e era uma mulher lindíssima.. Vivia com o seu cão e o seu gato persa no apartamento que ela própria tinha pago.. tinha conseguido aquele emprego maravilhoso com que sempre tinha sonhado , e tinha um belíssimo carro.. enfim, tinha tudo aquilo que o pai e a irmã sempre lhe disseram que ela nunca iria conseguir ter, por ser tão fraca de cabeça..
Anne gostava de estar sozinha em casa, nao queria partilhar aquele ambiente acolhedor com nenhum homem, e os seus namoros não duravam mais do que 1 ou 2 meses... Quando saiu de casa prometeu a si própria que nao iria seguir o exemplo da mae, haveria de nasçer o primeiro desgraçado que ousasse sequer levantar-lhe a mão..
O tempo foi passando e nada mudou no pensamento daquela belíssima mulher.. Entregava-sse apenas ao prazer momentâneo, e quando as coisas estavam a ficar mais sérias, ela simplesmente desapareçia .. Num dia maravilhoso, com imenso sol, Anne acordou com o telefone a tocar, atendeu e logo de seguida esboçou um enorme sorriso , desligou a chamada e gritou bem alto : " O DIA MAIS FELIZ DA MINHA VIDA !!! "
O Pai tinha faleçido num acidente de carro, o funeral seria no dia seguinte , mas Anne não pensou sequer em ir , como alternativa decidiu almoçar no restaurante mais caro da cidade e comprou montes e montes de roupa, de seguida foi ao supermercado e comprou uma garrafa de champagne das mais caras... dirigiu-se para casa , telefonou a todos os amigos e organizou a festa mais animada de sempre.. Aquilo era para ela o que para nós significou o 25 De Abril !! o seu pânico tinha finalmente acabado ...

[ Direitos de autor : HannahSousa .. Proibida a cópia, venda ou qualquer tipo de comercialização deste excerto ]

1 comentário:

  1. Tenho a dizer que gostei do texto, pela carga sentimental acima de tudo.
    Enfim, gostei, e o resto que tenho a dizer depois digo.haha

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